Surgem as Mordidas
COMO PODEMOS ENTENDÊ-LAS
De quando em quando, dentro da dinâmica escolar, o assunto vem à tona: crianças são mordidas e pais ficam preocupados.
Na tentativa de ajudar a entender essas manifestações recorremos a este texto sobre características de faixa etária, do contexto onde acontecem as mordidas e qual é a postura da Escola em relação a elas.
Entre 1 e 2 anos, a criança ainda tem na sua boca uma das grandes fontes de descobertas. Do brinquedo à pedra, passando pela chupeta, tudo ela leva à boca para experimentar e para dela retirar sensações diversas. Chupar, morder, sugar, degustar, emitir sons, inspirar e expirar são ações que dão prazer e também por onde pode relacionar-se com o mundo externo.
Os dentes que estão despontando na gengiva coçam e afligem a criança nesta fase. Outro fato a se considerar é que as crianças até 3 anos frustram-se com facilidade e têm pouco controle sobre seus impulsos.
No entanto, considerar somente estas características é pouco. É preciso olhar com atenção o contexto em que vive a criança. O próprio fato de ingressar na escola traz consigo vários desafios de adaptação como, por exemplo, sair de um ambiente familiar e seguro para o outro ambiente mais amplo e desconhecido. Tanto o aluno como seus pais estão à procura de uma abertura para mudanças, mas uma certa ansiedade em relação ao novo sempre aparece.
DENTRO DA ROTINA DA ESCOLA, EM QUAIS MOMENTOS APARECE A
MORDIDA?
Para as crianças desta faixa etária, compartilhar ainda é difícil já que o outro não é percebido como diferente delas próprias. O outro só existe em função do seu desejo. Na hora da disputa por algum objeto ou pela companhia de alguém, aparece o conflito seguido da sensação de perda. O desconforto deste sentimento é algo que ainda não pode ser compreendido e, na ânsia de livrar-se dessa situação, agem rapidamente usando seu corpo. O corpo é aquilo que lhes é mais conhecido, sobre o que têm mais controle é a boca, o foco de sua expressão. Num instante, acontece uma mordida.
Mas também, pode ocorrer de alguma criança ficar muito cansada ou com sono e, diante deste desconforto, irritar-se e morder.
Há a mordida como manifestação de contato. Quando começam a despertar para o fato de que existem outras crianças, quando vão se conhecendo melhor e criando vínculos, aparece uma mistura de união e empurrão, beijos e abraços apertados com mordidas e beliscões. Não podemos esquecer que muitos pais dão pequenas mordidas nos filhos como forma de carinho.
A relação do outro é também algo que estão explorando e experimentando. Muitas vezes são surpreendidos por esta reação por não terem a real dimensão da dor provocada. É comum assustarem-se e chorarem junto com o outro.
MORDER É SINAL DE AGRESSIVIDADE?
Na maioria dos casos não há intencionalidade ao morder, ou seja, a criança não planejou a ação. Como já foi dito, a mordida pode ter saída de um abraço apertado ou como forma de aliviar um desconforto do momento. Porém, a mordedura é a primeira pulsão agressiva das crianças e pode estar representando uma zanga, um ciúme ou uma autoafirmação. Como nesta faixa etária ainda não conseguem dosar sua força ou até seus impulsos, às vezes podem assustar os adultos.