Como será a volta às aulas? Façam suas apostas!
Nas últimas semanas, temos lido cada vez mais sobre a possibilidade de volta às aulas presenciais. Isso, por si, já nos causa enorme ansiedade: como será que vai acontecer? As escolas têm divulgado que ainda estão estudando o assunto e que, se houver retorno, vão tomar todas as medidas necessárias para garantir um ambiente seguro, dentro das normas etc. Mas, é inevitável sentir angústia: é possível garantir segurança neste cenário tão incerto em que estamos vivendo? E mais, é possível garantir segurança para todos? O meu pensamento necessariamente migra para a questão da inclusão e para as crianças com deficiência e suas famílias.
Fico pensando … Ora, se a volta às aulas já gera muita ansiedade, imagina para os pais que têm filhos em situação de inclusão … Acredito que essa ansiedade possa dobrar, triplicar ou mesmo chegar ao infinito e além.
Fora a preocupação com a segurança em relação à nova rotina escolar em tempos de Covid, imagino que os pais pensem em como o filho vai se comportar ou como vai se sentir com esse retorno. Acho que muitos pais podem ter a impressão de que, no período de quarentena, seus filhos, de certa forma, “regrediram”. Fico imaginando que, para alguns, possa vir a sensação de que será um recomeço e que será necessária uma nova adaptação. Creio que muitas mães e pais agora estejam pensando que poderá ser como no início do ano letivo ou mesmo como no começo da vida escolar. E, para muitos, foi uma época tão dura …
Esse período de adaptação é sempre muito delicado e requer tanto da escola como da família muito cuidado e tempo para permitir que a criança, aos poucos, se sinta à vontade naquele ambiente. Então, se comparássemos a situação a um jogo de tabuleiro, poderia ser como se estivéssemos voltando ao ponto de partida? Os dados teriam que ser novamente jogados a partir do início? O jogo teria que ser, mais uma vez, descrito, as peças reconhecidas, o objetivo esclarecido e as regras repassadas?
Tenho a impressão de que não ou, pelo menos, não da mesma forma. Mesmo que a gente volte para a casa número um, o ponto de partida não será mais o mesmo. Não foi o filósofo Heráclito quem nos ensinou que não nos banhamos duas vezes no mesmo rio? Pois bem, o rio pode ser aparentemente o mesmo, mas nós não somos – muita água já passou. Tudo o que foi construído e vivido na escola antes deste período de quarentena não foi em vão. A gente poderia comparar este possível cenário a um retorno aos treinos depois de uma longa viagem: nosso corpo tem memória! Assim, esse recomeço nunca será exatamente como se fosse uma estreia, porque tudo que foi vivenciado, todo aquele saber está impresso em nosso ser e faz parte da nossa história. Está tudo lá dentro!
Como acredito não só na capacidade e na potência de todas as crianças, como também na ideia de que tudo o que experienciaram e viveram de forma verdadeira é um patrimônio que acumularam, acho que o ponto de partida não será exatamente o mesmo. Provavelmente, neste tabuleiro, se voltarmos ao início, as casas serão avançadas em outra velocidade e com uma outra maturidade. Então, embora estejamos muito preocupados, fica a dica: apostemos em nossos filhos, porque eles não são mais os mesmos, nem nós!